quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CATIVEIRO


Feliz, enquanto a mãe e os irmãos cantavam as velhas cantigas dos antepassados lá na lavoura, ela ia fazendo o trajeto para a Casa Grande carregando saltitante as cestas com a colheita. Era sonho. Quando acordou, lembrou-se imediatamente que estava na senzala. Cheiro de madeira podre molhada. Os grilhões reluzindo pela única fresta de sol que entrava no cubículo não lhe deixava dúvidas, estava sim na senzala. Três dias nesse cativeiro. Umidade. Ela estava ali, não tinha dúvida, por causa da cor escura da sua pele. Por ser bonita e jovem. Era escrava sexual dele. Ele não dava trégua. “Sua preta imprestável”. “Sim sinhô”. E chicoteava-a sem piedade. Nua, suja, humilhada, seu cabelo pixaim desgrenhado pelos violentos puxões dados, quando ele violentava-a por trás, reafirmava a idéia de que a sua vaidade ia se esvaindo, como ele queria. “Crioula imunda lambe meu pé. Cadela. Lambe o saco do seu Senhor.” Eram muitas as humilhações verbais. “Você é bicho, não é gente. Chupa meu pau. Olha, se arranhar meu caralho com os dentes, sua asquerosa, vai tomar mais trinta chibatadas. Quer? Quer?”. Ela reunindo o cadinho de forças que lhe restava, dedicava-se a fazer como ele queria, se não fizesse bem feito, sabia que ia levar mais porrada, mais chicotada. “Sim sinhô, sinhozinho”. Ele não dava descanso. Humilhava cada vez mais. “Gente suja essa crioulada!” Às vezes ele pagava ela de surpresa. Como na vez que ela tava lá, no chão imundo, deitada de bruços, dormindo, descansando das curras anteriores e ele chegou repentinamente por cima, de surpresa, feroz, segurando os pulsos pra que ela não virasse pra cima. “Não me olha sua negra fedorenta desgraçada, raça ruim! ”. Assustada, acordando pro novo pesadelo, sente o pau dele arranhando no cu mulato comido à força. O suvaco cabeludo sufocando-a. Três dias consecutivos de torturas físicas, morais e sexuais. O corpo bem torneado e com músculos bem distribuídos talvez tenha dado mais resistência. “Mas que catinga artida sua preta imunda! Macaca piolhenta!”
No segundo dia é que foi o pior. Ele trouxera mais dois brancos para ajudarem a currá-la. “ Podem ficar á vontade, é igual à uma bezerrinha, só que a bezerrinha é mais apertadinha”. E riram os dois senhores enquanto revezavam na sua vagina já esfolada. E beliscaram com alicate no mamilo. “ Tirando leitinho da teta da bezerrinha”. E pegaram a sua cabeça e forçaram-na a colocar dois pênis na boca ao mesmo tempo. Ela golfando. Duas chibatadas queimando nas costas nuas. “Se vomitar apanha mais, preta”. Quarto dia. Só ela e ele lá. Depois de mais uma sessão de torturas, esgotada, garganta colando de sede, pediu água. “Por favor sinhozinho, água eu suplico”. Recebeu. Uma água amarela, quente, fétida, saindo do pênis dele. “Porca tem que beber urina”. Não tinha fim. Ou melhor, a tortura temporariamente teve fim quando o telefone tocou. Ela atendeu e, enquanto olhava pra ele, respondia: “Alô. Sim senhora Dona Verônica, é a Catarina. A senhora vai chegar de viagem só na terça-feira? Podeixar então que eu passo o recado pro Seu Domenico. Sim. Sim. Boa viagem. Tchau.”. E gritou pra ele: “Que maravilha Domenico! A gente tem mais três dias de cativeiro. Detona sua pretinha!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário